Ricardo Severo

Ricardo Severo da Fonseca e Costa nasceu em Lisboa, em 1869, filho de José António da Fonseca e Costa, comerciante em Angola, e de D. Mariana da Cruz da Fonseca e Costa. Faleceu em São Paulo, Brasil, em 1940.

Ele é o patrono da Biblioteca Portuguesa de São Paulo, pertence ao Clube Português e foi um dos seus grandes incentivadores.

Engenheiro, arqueólogo, arquitecto, formou-se como engenheiro civil de obras públicas em 1890 e engenheiro civil de minas em 1891, na Academia Politécnica do Porto.

Participou na fundação da Sociedade Carlos Ribeiro, em atividade de 1887 a 1898, e na da Revista de Ciências Naturais e Sociais (1890 a 1898). Os membros da Sociedade, inspirados pelo arqueólogo Carlos Ribeiro (1813-1882), enfatizaram a formação étnica do povo português, tema central das pesquisas arqueológicas que Severo desenvolveu na sociedade e na revista Portugália: Materiais para o Estudo do Povo Português (1899-1908), da qual foi fundador, editor e diretor.

Quando, a 31 de Janeiro de 1891, teve inicio a revolução republicana no Porto, Ricardo Severo, de acordo com as suas convicções politicas, desempenhou um papel bastante ativo em todo o processo.

Fracassado o movimento e, provavelmente, para fugir a eventuais perseguições, Ricardo Severo viajou para o Brasil, fixando-se em São Paulo. Aqui escreveu um artigo sobre o Museu Sertório, em 1892, por intermédio do qual conheceu Ramos de Azevedo (1851-1928), que o convidou a trabalhar no seu escritório.

Em 1893 casou com Francisca Santos Dumont, irmã do inventor Alberto Santos Dumont (1873-
1932) e filha do então rei do café, Henrique Dumont. Do casamento contraído com esta senhora nasceram oito filhos, quatro em Portugal e quatro no Brasil. Apesar da incansável actividade profissional exercida em diversas áreas, nunca descurou a família, à qual sempre se dedicou.

Em finais do século XIX regressou a Portugal, onde retomou as atividades como arqueólogo, à frente da Portugália. Em 1908, confrontado com dificuldades financeiras, regressou ao Brasil. Ao contrário do que havia feito em Portugal entre 1884 e 1908, época em que se dedicou quase exclusivamente à arqueologia, a sua atuação no Brasil foi diversificada. Em 1908 tornou-se sócio do Escritório Técnico F. P. Ramos de Azevedo, estendendo o vínculo à Companhia Iniciadora Predial, à Companhia Cerâmica Vila Prudente e ao Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, do qual foi diretor entre 1928 e 1940.
Em 1934, escreveu o livro Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo: Histórico, Estatutos, Regulamentos, Programas, Diplomas, ainda hoje uma referência importante sobre a história dessa instituição.
Planeou e concebeu a revista Portuguesa e dirigiu-a entre 1930 e 1937. Editada pela Câmara Portuguesa de Comércio e pelo Clube Português, dedicava-se às ciências, às artes, à arquitetura, ao comércio e a outras atividades vinculadas à colônia portuguesa em São Paulo, da qual Ricardo Severo era um dos principais representantes.

Filiou-se no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, em 1911, e participou na criação da Revista do Brasil. Nessas e em outras instituições e periódicos publicou séries de artigos e de conferências dedicadas à arqueologia, ao republicanismo, à colônia portuguesa e à arquitetura. As conferências com maior destaque foram aquelas que compuseram o que Severo denominou Campanha de Arte Tradicional no Brasil - A Arte Tradicional no Brasil: a Casa e o Templo, em 1914, e A Arte Tradicional no Brasil, em 1916, conhecidas na bibliografia especializada como marcos do neocolonialismo, termo que o engenheiro rejeitava.

Existe uma interminável lista dos trabalhos realizados por Severo por todo o Brasil, não sendo menos longa a lista das publicações em revistas e obras científicas da altura, principalmente ligadas à arqueologia.

Em 1932 foi homenageado pela colônia portuguesa, em comemoração dos 41 anos da revolta do Porto, e, em 1969, pela Academia Paulista de Letras, pelo centenário do seu nascimento. Durante estes eventos foram lançados os livros Homenagem a Ricardo Severo e Homenagem a Ricardo Severo: Centenário do Seu Nascimento 1869-1969.

(Texto de Ricardo Jorge Costa Diogo, 2008)

Fonte: Instituto U. Porto - Sigarra

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